Aquele que diz que depois da tempestade vem a bonança deveria ter um terceiro ponto de vista. Quando a tempestade de fato vem, incrivelmente tiramos força do lugar mais profundo de nossa existência para sobrevivermos a ela, e dificilmente fracassamos.
A dificuldade está na calmaria, no silêncio, na adaptação de uma nova realidade possível. Se alguém morre, não é na despedida que o coração dói até não podermos aguentar; se o namoro acaba, não é no último beijo que a ausência vai dar as caras. O cotidiano é que vai mostrar qual é o tamanho da ferida enfim, naquele momento em que se é invadido de pensamentos e que a realidade cai com cem quilos em cima das costas. É aquela hora em que vai ter sempre alguém tentando dizer algo para confortar ou para esclarecer sendo que até o conforto tem tempo certo para chegar.
A vida é isso aí mesmo, cheia de turbilhões, de altos e baixos, e o mundo não vai parar porque tem uma nuvem em cima de você. Nessas horas me vem sempre um fragmento de D. Quixote na cabeça:
"Sabe Sancho, todas essas borrascas que nos sucedem são sinais de que breve há de serenar o tempo e hão de correr-nos bem as coisas, porque não é possível que o mal e o bem sejam duráveis: donde se segue que, havendo durado muito o mal, o bem está próximo". E tentando acreditar na indurabilidade de tais borrascas nós nos arrastamos pelo mal bocado que seja, tornando no final um grande espetáculo de bom humor.