quinta-feira, agosto 26, 2010

Pérolas

Domingo passado eu ganhei uma estante e finalmente dei um lar novo aos meus queridos livros que estavam abandonados no chão. Mudar um móvel de lugar já motivo bastante prá meu exercício de desapego, ou seja, se livrar do passado e reciclar o presente. No meio da limpeza ncontrei uma listagem de absurdos ditos na minha sala quando estava no 3o ano do Médio.

Aqui vão:

- Ditongo é oposto de hiongo, né? (Raíza)
- Parabéns prá você / Nessa data divina! (Alê)
- Nossa, estou ardendo em gripe! (Carolzinha)
- Alê, olha seu olho! (Daniella) - ahn?
- Eu vou ler prá vocês, depois você ouvem. - é gravação?
- Não, é que dessa vez o meu cabelo eu cortei grande! (Danizinha)
- Prestem atenção porque isso aqui vocês vão usar pro resto da vida até o vestibular ( Prof Peppe) - Considerando que era química, nem no vestibular...
- Prof: Me dê um exemplo de uma solução sólida.
Rodrigo: Sopa de feijão!
Prof: Me dê um exemplo de uma solução líquido sólida
Rodrigo: Purê de batata e latinha de atum!
- Faixa de idade é faixa idosa. (Thiago Rodrigo)
- Como chama aquele negócio que põe no morto? Naftalina, né? (Andressa)
- O que acontece quando um morcego pica? (Alê)
- Quem comete fraude é fraudário. ( Alê)
- Quando termina a faculdade a gente se forma barechal. ( Fernanda)
- Alê: Eu ouvi que a clara do ovo é o espermatozóide do galo. A gente come o espermatozóide do galo?!
Daniella: Sim, e é por isso que dá espinha.
- O barco estava sobre a terra e assim naufragou ( Andressa)
- Vá pro Diabo que o parta! ( Naiara)
- Gente, é a mesma coisa, mas ao contrário ( Prof Peppe)
- Tá, vou falar em braile então. (Thiago Rodrigo)
- Aqui perto tem Os alcoolicos Autônomos (Daniele)
- O cruzamento da égua com burro dá cavalo! (Alê)
- Como eu faço um 3 em letra de forma? (Thiago Rodrigo)
- Ela nasceu de fosps. (Daniella)
- O mameluco é o que fica entre o português e o índio. (Gêmeos)
- Ih, meia noite a abóbora vira charrete! (Jaque)
- Alê, o que é uma vogal? (Jaque)
- Não nasceu meu dente narciso. ( Thiago R)
- Carolzinha: Vou falar sobre o Alberto Carneiro...
Thiago Gêmeos: É o heterogeneo de Fernando Pessoa
- Certa noite amanheceu... (Matheus Gêmeos)
- Os homens não merecem nossa fieldade! (Renata)
- Mentecapto é uma planta. (Andressa)
- A gente vai olhar os planetas no microscópio (Matheus)
- Ah, lapso é tipo um auge! ( Daniele)
- É bem parecida com os dias de hoje, mas muito diferente! (Matheus)
- Só foram descobertos 30% dos tesouros, os outros 90% não. (Matheus)
- Não, ela não tá grávida de grêmios! (Daniele)
- Eu falo em importado (Thiago Rodrigo)
- Gambá não tem perna! (Alê)
- Maritaca é um pássaro que fala ( Fernanda)
- Tem que molhar a saliva (Daniella)


Tem milhares, mas eu ficaria digitando até amanhã... E já me autodiverti muito por hoje!

segunda-feira, agosto 16, 2010

auto-engano

Eu sempre tive sérios problemas com minha falta de foco, que convenhamos, me gerou muitos problemas. Mas agora, eu me esforço é prá ficar distraída. Sem esperar nem desesperar nada. Toda atenção - e tensão - são bases construtoras de fantasias que, lógico, são construídas e, por serem fantasias, muitas vezes, são demolidas também. Isso de construir e derrubar eu manjo bem, eu derrubo quase tudo/ todas.
Agora eu to tentando me interessar apenas pelo não-saber, numa experiência - sei lá, indiana, psicodélica, espiritual, whatever - de deixar o corpo fora da mente, em descomando absoluto.

Confesso: tudo isso aí é uma bela tentativa de ME distrair. Não consigo descolar nem o ínfimo milímetro de pensamento dessa babaquice de deixar fluir. Mas ninguém precisa saber, muito menos eu.

terça-feira, agosto 10, 2010

Caminhando juntos, indo embora de algum lugar, me salta essa frase:
- Eu estava muito triste aquele dia em que você apareceu. E, eu fiquei feliz em saber que estavam lá, todos vocês... Uma lágrima escorreu.

Isso me tocou de muitos jeitos. Eu também tava triste, mas isso é tão comum em mim. Sou de gêmeos, fico alegre e triste a cada uma hora, tudo depende da distração do pensamento ruim pelo bom, da lembrança que substitui o bom pelo ruim. Mas você não. Você é bom. Você é frio. Você é bom demais, inteligente demais prá ficar triste. E eu vendo você, mero mortal, me entupiu de vontade de falar "porra, eu também! Você é meu melhor amigo, eu te amo, estamos juntos" mas me soou um pouco atrasado. Aí eu calei. Engoli como sempre todas as coisas bonitas que eu tenho prá te falar. Calei, te olhei, escapou um sorriso que eu queria muito que você lesse, e continuei caminhando.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar,
mas nunca encontrei você na escada.


Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para falar, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, o ver, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa?
(Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso.)
Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus.
Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço. Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas caírem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

Crônica publicada no jornal "Estadão", Caderno 2 de 29 de julho de 1987

Chorei.