quinta-feira, setembro 24, 2009

São Paulo da garoa, em plena tempestade bem na hora de ir trabalhar. A chuva é um sinal de azar em dias úteis e horário comercial. Meia molhada, cabelo desgrenhado, guarda-chuva que insiste em quebrar. Mas no meu caso, o problema foi a não existência de um.
O guarda-chuva e eu temos problemas pessoais, onde ele está eu não estou e vice-versa. Só que dessa vez eu precisava dele, desejava um guarda chuva mais do que o Brad Pitt pelado na minha cama.
Eis que eu, condenada a vários pingos vis, peguei o elevador e me deparei com uma senhorinha que nunca tinha visto nas dependências do humilde barraco. Papo vai, papo vem, "que chuva", "desde de manhã"," não tenho guarda chuva" e o elevador parou no destino de ambas. Conformada que não teria jeito, meu fim era trabalhar com a meia molhada, encarei a porta de saída quando de repente uma vozinha ecoa "Olha, minha filha, me leva na esquina e vá trabalhar com meu guarda-chuva, não tem problema, amanhã você me devolve". Hesitei alguns instantes, olhei pro guarda-chuva, prá vovozinha, prá tempestade e aceitei a boa ação.
Fiquei em estado de choque como ainda tem pessoas que não se acham o umbigo do mundo.
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O único problema foi que o karma foi cumprido e eu esqueci o guarda-chuva de terceiros no trabalho.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Foi um clique atrevido que despertou minhas memórias. Um clique curioso acendeu lembranças que um dia fiz questão de esquecer. E fiquei horas rodopiando nessa nostalgia da nossa história. Olhei sua foto, baixei os olhos e tive plena convicção de que valeu a pena.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Insônia.

A insônia está quase personificada na minha vida. Estou a ponto de chamá-la para um café, trocar algumas idéias, alguma coisa que faça do ócio torturoso algo criativo. Que pelo menos ela sirva para aliviar as angústias, e não apertá-las. Se é para ela vir e ficar, que ouça os meus desabafos.

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Fernando Pessoa ( Álvaro de campos )

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite — Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam —
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam —
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos... E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência, Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem... Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.

O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são?
Não sei. Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente.
Mas não durmo.

quarta-feira, setembro 02, 2009

E a dor aparece quando você vê que não uma, mas várias pessoas te habitam, e você acaba sendo expulso de si próprio.

terça-feira, setembro 01, 2009


Deixo tudo assim

não me importo em ver a idade em mim

ouço o que convém

eu gosto é do gasto

sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer

que eu preciso sim

de todo o cuidado

e se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar

o que eu fiz

quem então agora eu seria

ahh, tanto faz

e o que não foi não é

eu sei que ainda vou voltar

mas eu quem será?

deixo tudo assim

nao me acanho em ver

vaidade em mim

eu digo o que condiz

eu gosto é do estrago

sei do escândalo e eles tem razão quando vem dizer

que eu não sei medir

nem tempo e nem medo

e se eu for o primeiro a prever e poder

desistir do que for dar errado

ahhh ora se não sou eu,

quem mais vai decidir

o que é bom pra mim?

dispenso a previsão.

ahhh, se o que eu sou

é tambem o que eu escolhi ser,

aceito a condição.

vou levando assim

que o acaso é amigo

do meu coração.

quando fala comigo,

quando eu sei ouvir.